Nenhuma espécie do reino animal demora tanto quanto esta, que se grava em palavras para alcançar um mínimo de autonomia. Sendo assim, nascer, se alimentar, se equilibrar sobre dois pés e juntar palavras também passa pelo outro. E isso já poderia ser suficientemente desafiador por pelo menos uma década e meia. Não é.
Acontece que, de um lado, estão eles, nos malabares da vida doméstica, do trabalho e daquilo que pode caber em uma vida só se justifica no convívio com o outro. E esse outro só pode se desenvolver se for reconhecido como é: único.
Na volta às aulas, esses indivíduos, por vezes, vestem o mesmo, formam grupos pelo número de anos que carregam e descobrem que existem outros igualmente diferentes. Imagine o desafio de olhar trinta ou quarenta pares de olhos nos olhos e acolhê-los e cativá-los conforme suas necessidades?
Esta noite sonhei que estava na escola, e era dia de prova. Para variar, não estava devidamente preparado. E ainda havia mais um fator: a avaliação era em língua espanhola. Que sorte a nossa ela já ser uma moeda corrente nas ruas tapejarenses. Um intercâmbio sem sair da cidade. Outro alívio foi descobrir, no sonho, que a prova fora transferida para o dia seguinte.
Honestamente, não recordo com saudade os dias de exame, mesmo tendo aprendido que as provas são diárias. Porém, na memória, o sinal da aula, a hora da merenda ou o reencontro com os amigos no futebol do Severino Dalzotto, depois de um longo verão, me lembram que aprendizado é mais convívio do que prova.