Prestes a completar um inédito ano morando longe do feijão com arroz, do churrasco no espeto e do fogão à lenha, investido de alguma experiência dessa terceira década que já começa a branquear alguns fios de cabelo, sinto-me mais à vontade para compartilhar alguns segredos sobre a vida estrangeira: o melhor e o pior de morar fora do Brasil.
Um dos símbolos da minha geração é o videogame clássico, onde a maioria dos jogos segue uma lógica linear e escalável: começa fácil e vai ficando mais difícil até o final. No caso de mudar de país, é o oposto: “largar tudo” e ter condições de reconstruir a vida em outra cultura, língua e costumes é como começar direto pelo nível mais difícil.
Mas calma, aviso que a fase mais complexa desse início costuma ser muito bem recompensada pela moeda da novidade. A começar pelo local escolhido para morar. Imagine só ter a oportunidade de recomeçar de verdade aos trinta, escolhendo um lugar baseado nas suas próprias preferências. É aí que surge uma das principais questões: o que é realmente importante para mim?
Ninguém escolhe o contexto em que nasce, e isso baliza nossas possibilidades e limitações. Quando saímos dessa influência, começamos a medir o peso real de cada pessoa e coisa em nossa vida. E então, por um tempo, enfrentamos uma das piores sensações, que antecede uma das melhores: sentir-se culpado por não querer mais algumas pessoas por perto.
Depois desse luto interno, se algo permanecer, o tempo há de peneirar as memórias, revelando apenas a essência, sem enfeites ou adornos. É nesse álbum depurado de lembranças que a clareza aparece. Afinal, a liberdade só encontra espaço em quem está disposto a abandonar certezas.
De forma objetiva, aqui estão os extremos:
O maior desafio: a saudade de algumas pessoas.
A maior vantagem: não sentir saudade de algumas pessoas.