Passo Fundo figura como a quarta cidade com maior número de migrantes, com 5,1% do total do Estado. O município fica atrás de Porto Alegre (18,4%), Marau (7,3%) e Bento Gonçalves (5,7%). Os dados são do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), divulgados no início de outubro pela Secretaria Estadual da Saúde (SES).
O boletim também apresenta informações quanto às funções ocupadas pelos migrantes que trabalham no RS. No município, a maioria dos trabalhadores com vínculo formal encontra-se na indústria de transformação, no cargo de alimentador de linha de produção.
Em seguida vêm os serviços gerais, como faxineiro, repositor de mercadorias, auxiliar em serviços de alimentação e operadores de caixa. A maior parte, quase 80%, recebe entre um e 1,5 salário mínimo.
Nos últimos dois anos, a contratação de estrangeiros cresceu 215% em Passo Fundo. Ainda que o número reflita um cenário aberto à contratação dessa população, os cargos ocupados seguem o mesmo padrão há anos: a maioria trabalha em frigoríficos e estoques, em especial nas vagas que demandam pouca comunicação ou necessitam do conhecimento de quem vem de países muçulmanos.
Em geral, são funções que não costumam exigir alta qualificação — o que não significa que os migrantes empregados não sejam profissionais habilitados. É comum que estrangeiros cheguem no Brasil apenas com o diploma e enfrentem a burocracia para validar e reconhecer esses documentos.
— Em caso de diplomados, o sistema brasileiro pede informações difíceis de serem acessadas à distância, como corpo docente (do curso), projeto pedagógico e disciplinas. Ou, em alguns casos, é preciso pagar caro para ter acesso à papelada — explica Patrícia Noschang, coordenadora do Balcão Migrante e Refugiado da Universidade de Passo Fundo (UPF).
Acidentes de trabalho
O documento traz também números de acidentes de trabalho entre essa população. Em todo o Rio Grande do Sul, foram 253 casos em 2023, número que apresentou redução em comparação com a série histórica. Em 2021 foram 330 e em 2022 foram 274 casos. Esses acidentes foram, na maioria, da população negra masculina trabalhando na função de alimentador de linha de produção.
Em segundo lugar, na função de soldador e em terceiro, como faxineiro. Outros agravos que apresentam registros são por Lesões por Esforço Repetitivo (LER), intoxicações exógenas por agentes biológicos, violências relacionadas ao trabalho e transtornos mentais relacionados ao trabalho.
Na macrorregião Norte, que abrange Passo Fundo, as notificações de agravos ficaram entre 21 e 50 entre 2021 e 2023. O cenário é melhor do que o da Serra, que teve entre 101 e 140 casos, e do que da Região Metropolitana, de 51 a 100 acidentes no período.
Desafio da qualificação
Os desafios aos migrantes são inúmeros, a começar pelo idioma. Por isso, as famílias que chegam em Passo Fundo encontram suporte no Balcão do Migrante e Refugiado, que auxilia em todos os processos, mas especialmente na regularização de documentos.
— O público que nós atendemos é de pessoas que não tiveram outra opção, ou seja, migrar foi uma necessidade. A passagem pelo balcão é importante porque também dá acesso a direitos — diz Patrícia.
Na busca pela naturalização e para facilitar o ingresso no mercado de trabalho, os migrantes e refugiados de Passo Fundo e região fazem curso de língua portuguesa, oferecido pela Universidade de Passo Fundo (UPF).
O objetivo é capacitar o grupo para interagir em diferentes situações do dia a dia, possibilitando que estejam melhor preparados não só para a busca de empregos, como para o convívio social.
Os interessados podem fazer contato pela UPF Mundi, no telefone (54) 3316-8510, ou pelo Balcão do Migrante e Refugiado, no telefone (54) 99191-7776 ou e-mail balcaomigra@upf.br.
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Fonte:
GZH
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